Hoje em consulta, uma paciente disse-me assim "Com o peso que já perdi, tenho muito menos dores nos joelhos e estou melhor da artrite". Eu tive-lhe a explicar que não é só pela perda de peso que ela se sente melhor, mas sim por todas as mudanças alimentares que lhe propus.
Ora bem, a Artrite Reumatóide (AR), uma das formas mais comuns de artrite. É uma doença inflamatória crónica, que pode afetar várias articulações, desde joelhos, dedos, pulsos, tornozelos, etc.
É uma doença auto-imune, ou seja, mais uma!
A causa é desconhecida e é mais comum nas mulheres que nos homens, iniciando os sintomas por volta dos 30 a 40 anos.
Os sintomas mais comuns são: dor, edema, calor, vermelhidão, etc. Enfim, não vos quero falar muito sobre a doença mas sim sobre a nutrição nesta doença.
Por ser uma doença que envolve mecanismos inflamatórios, o sistema imunológico está comprometido.
Neste sentido, as escolhas alimentares que fazemos podem ajudar a modular o sistema imunitário, fornecendo nutrientes que ajudem na melhoria dos sintomas, prevenindo a evolução da doença e melhorando a qualidade de vida de quem a tem!
Aqui estão 5 pontos chave a pensar na AR.
Dica 1. O intestino. O funcionamento intestinal inadequado, tem sido proposto pela ciência como um possível agente na manifestação da AR. Um estudo clínico, mostrou uma redução significativa da libertação de agentes inflamatórios na corrente sanguínea (TNF-alfa, IL6 e IL2), com uma suplementação com probioticos durante 8 semanas, o que melhorou o estado inflamatório e a atividade da doença.
Dica 2. Sensibilidade Alimentar. É importante rever a tolerância de cada paciente a determinado tipo de alimentos, nomeadamente: leite, glúten, caseína, soja, entre outros. Estudos demonstraram que uma dieta sem glúten, melhora os sintais e sintomas da AR e reduziu os níveis de imunoglobulinas G (IgG), anto-gliadina e anti-B-globulina. A boa adaptação à dieta, livre de alimentos que provoquem hipersensibilidade, parece ter o mesmo efeito que o uso de corticoides na rigidez, dor e edema nesta doença.
Dica 3. Antioxidantes. Pacientes com AR apresentam um elevado stress oxidativo e um comprometimento do sistema imunológico. Assim, a escolha por alimentos antioxidantes torna-se bastante vantajosa: vitamina E, C, beta-carotenos, licopeno, selénio, CQ10.
Dica 4. Sol. A falta de vitamina D, parece aumentar a probabilidade de desenvolvermos uma doença auto-imune. Em alguns casos é importante suplementar, ou mesmo apanhar sol nas horas permitidas.
Dica 5. Omega 3. É importante apresentarmos um bom rácio entre as gorduras omega 6 e omega 3. O excesso de omega 6 torna-se inflamatório, e estudos têm mostrado que pacientes com AR apresentam níveis baixos de omega 3. A suplementação nestes casos (ou o aumento de alimentos ricos em omega 3, e pobres em omega 6), parece diminuir a utilização de anti-inflamatorios, e também diminui a dor.
Dica 6. Nutrientes anti-oxidantes. Em nutrição há um mundo por explorar. Parece que flavonoides como: EGCC (do chá verde), apigenina (salsa e aipo), indole-3-carbinol (brassicas), curcuma (açafrão), entre outras...atuam na redução da inflamação, e produção de citocinas, desempenhando um efeito anti-artrite.
Como podem ver, a consulta de nutrição não serve só para "emagrecer ou engordar". A nutrição deve adaptar-se às necessidades de cada paciente e das suas individualidades clínicas. Neste caso, mudar a dieta pode melhorar significativamente os sintomas de AR, bem como diminuir o avanço e a progressão da doença.
* É importante que procurem acompanhamento profissional.
Algumas Referências:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25665892
Min-Hsiung Pan et al. Anti-inflammatory activity of natural dietary flavonoids. Food Funct, 1, 15-31, 2010.
Miggiano, GA, Gagliardi, L. Diet, nutrition and rheumatoid arthritis. Clin Ter, May-Jun; 156(3)):115-23, 2005.
Vaghef-Mehrabany, E et al. Probiotic supplementation improves inflammatory status in patients with rheumatoid arthritis. Nutrition, Dec 17, 2013.
Lee, AL, Park, Y. The association between n-3 polyunsaturated fatty acid levels in erythrocytes and the risk ofrheumatoid arthritis in Korean women. Ann Nutr Metab, 63(1-2):88-95, 2013.
Chen, CY, Tsay, CY. From endocrine to rheumatism: do gut hormones play roles in rheumatoid arthritis? Rheumatology (Oxford), Feb;53(2):205-12, 2014.
Mohammadhahi, M et al. Soy protein, genistein, and daidzein improve serum paraoxonase activity and lipid profiles inrheumatoid arthritis in rats. J Med Food, Feb;16(2):147-54, 2013.
Park, Y et al. Effect og n-3 polynsaturated fatty acid supplementation in patients with rheumatoid arthritis: a 16-week randomized, double-blind, placeb-controlled, parallel-design multicenter study in Korea.
Hafstrom, I et al. A vegan diet free of gluten improves the signs and symptoms of rheumatoid arthritis: the effects on arthritis correlate with a reduction in antibodies to food antigens. Rheumatology (Oxford); 40 (10): 1175-9, 2001.
Deitch, EA et al. Elemental diet-induced immune suppression is caused by both bacterial and dietary factors. J Parenter Enteral Nutr; 17: 332-6, 1993.
Calder, PC. Omega-3 polynsaturated fatty acids and inflammatory processes: nutrition or pharmacology? Br J Clin Pharmacol, Mar;75(3):645-62, 2013.